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Família Desnível Positivo( Luís Pereira, Nuno Silva; Dionísio Pires, José Pereira, Pedro Conde, Artur Costa, Diogo Almeida, Pedro Pinho e Renato Presa. |
Mais uma prova onde a família do trail estaria reunida! Sem dúvida tinha sido este o meu pensamento durante alguns dias e realmente foi o que se verificou. Foi sentida a falta da presença do vencedor da edição de 2012, Carlos Sá, mas anda a relatar as suas aventuras lá para os lados da Argentina e quem sabe, já de olho, a tentar superar mais um desafio.
Esta prova, para mim, foi encarada como uma espécie de terminar a época, onde o objectivo principal seria finalizar e com objectivo secundário, reduzir o tempo do ano passado, pois o acumular de treinos, provas desde Setembro, onde a maratona do Porto, mais uma vez, me deixou uma mazela que teima em não desaparecer, teria que encarar este desafio na desportiva.
E foi na desportiva que na noite anterior dormi cerca de 2 horas, onde a constipação do meu filhote não me ajudou muito a descansar e certamente a ansiedade que se fazia sentir, também não. Eram cerca das 4.30 horas da matina, mal saí da cama, reparei logo nos vidros la janela e deu para perceber que estaria um frio de rachar, mas pelo menos não chove, pensei eu. Pequeno almoço tomado, tudo pronto arranco para Barcelos, onde nos dirigimos para a uma barraca para tomar um café, foi tipo local de encontro, o pessoal ia lá todo, a máquina não parava de tirar cafés, bem como o uso excessivo dos wc´s colocados a alguns metros dali, por momentos me passou na cabeça, café com cheirinho...estou a brincar.
Já se sentia a ansiedade no ar, era pessoal a ultimar os preparativos, outros ainda na fila do WC, outros contavam piadas, o verdadeiro espírito ultra destas andanças e neste cenário lá nos fomos dirigindo para o controlo zero.
Partida!
Controlo realizado, o padrinho da Prova, Carlos Peixoto ainda falou, mas não ouvi nada, contagem decrescente e partida. Tentei não me entusiasmar de inicio, pois no ano passado, para fazer os últimos 15 km, quase que me arrastei, pois esta prova é sem dúvida muito "rolante" principalmente no fim onde necessitamos das pernas para fazer aqueles últimos km.
Parti ao lado de pessoal conhecido, andei com a Ester, com o Luís Miguel, com o Capela, bem muita gente... as condições atmosféricas foram as que mais me agradam. sol e frio, para mim é a cereja no topo do bolo. Os primeiros km nada de especial, o pessoal ia fazendo já as primeiras paragens estratégicas, ainda existia muito humor, lá se lançavam as primeiras bocas, tipo "falta muito" e o típico grito do "solta o javali", que faço questão de berrar, como se estivesse a expulsar algo de dentro de mim(passo a expressão), digamos que já é um ritual a muito instalado com o meu camarada Diogo Almeida.
O primeiro abastecimento, foi só mesmo beber um copo de água e seguir não valia a pena parar mais que 10 segundos, aparece a primeira subida sem grande desnível, aqui digo ao Luís Miguel para manter o ritmo, não vale a pena estar a elevar o andamneto neste momento. Entretanto chegamos a segunda subida, antes do segundo abastecimento, aqui sou brindado pelo meu camarada Carlos Miranda, que com medo que o pessoal tivesse com muito frio, tinha xiripiti para os mais ousados beberem, é este o espírito do trail.
Passagem pelas pedras com ajuda de cordas, decidi não ir pelo lado sem cordas e aproveitar para subir com calma, pois calma é necessária, visto ter andado estes meses com muitas provas e muitos treinos acumulados, pois após a Maratona do Porto, continuo com uma daquelas lesões no pé, que ninguém sabe o que é e de onde será a sua causa. Para mim, é do alcatrão...
Daqui até ao próximo abastecimento, será sempre a subir, tipo carrossel, desce e sobe de novo, optei por manter um ritmo a trote nas subidas e manter a calma nas descidas, não fosse a lesão se agravar. O Sol já tinha rasgado o céu e brindou-nos com paisagens dignas de fotos sublimes, o frio continuava mas a vontade de progredir era imensa, neste ponto fico junto com o Paulo Coelho, da Viana Trail e seria com ele que iria fazer o resto do percurso até a meta.
Pac 3, km 23

Depois deste encontro, sabia que a prova seria quase sempre a descer até ao Pac 4 e as subidas que existiam, eram curtas e com pouco desnível, decidi apostar numa subida do ritmo e tentei manter de forma controlada... e não é que a máquina estava a funcionar bem.
Pac 5, km 37
Chegado a este abastecimento, sou logo brindado com um controlo surpresa do material obrigatório, como sempre tinha tudo comigo, pois sou daqueles que sigo a risca as regras do jogo, o abastecimento 5 estrelas com uma canja quente a ser servida e o pessoal neste local igualmente de topo, sempre a incentivar o pessoal a se hidratar e a comer, pois perder aqui alguns minutos, poderiam bem ser ganhos passados alguns km.
Passado este ponto temos uma subida, mais ou menos acentuada e uma descida até ao Pac 6, onde aqui subimos novamente até ao Facho. Esta subida já pesa bem nas pernas, mas como conhecia do ano passado, sabia que não tardava a chegar ao ponto alto e até a travessia do rio Cávado, onde estavam as canoas, seria sempre a descer.
Pac 7, km 52
Este ano o rio Cávado estava seriamente mais calmo, a organização também tinha mudado o ponto de passagem em relação ao ano anterior, enquanto no abastecimento, íamos trocando umas dicas com o pessoal da organização para que a travessia não fosse muito acidentada, realmente eu e o Paulo entramos em sintonia a viagem foi bastante curta, mas de uma beleza singular.
Já na outra margem , sabia que no ano passado o meu pesadelo começou neste ponto, este ano sentia-me bastante melhor, a experiência de um ano para o outro aumentou e por muito estranho que pareça, acho que os km acumulados estes meses foram uma mais valia para esta prova, a partir daqui era só rolar e deixar a cabeça superar o corpo.
Nunca mais chegávamos, é neste aspecto que este últimos km são desgastantes e para quem não estiver mentalmente preparado, vai facilmente reduzir o seu ritmo ou quem sabe, deixar de correr e simplesmente caminhar.
Passamos a ponte do comboio e ainda não é aqui que atravessamos para o centro, ambos sabíamos que tínhamos superado o desafio, o Paulo apesar de estar com um bom tempo, dizia que estava pior que no ano anterior, já eu, estava bem, em relação ao tempo do ano passado.
Lá avistamos a última ponte, só bastava subir uns degraus, entrar no centro histórico de Barcelos, aqui somos aplaudidos por pessoas, o Luís Alves ia passar de carro e prontamente começou logo a buzinar e a gritar palavras de apoio para os últimos metros, prontamente pensei, esta já está e tu conseguiste superar o teu desafio, ao chegar zona da meta, as emoções vêm ao de cima, não só pelo facto de estar acabar e ver o pessoal a aplaudir, mas também pelo vazio deixado pela ausência do meu filho e da minha esposa. Tinha mentalmente imaginado cortar a meta com ele ao meu lado, infelizmente uma constipação afastou este sonho, certamente ficará para outra altura.
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Isto é Trail! |
Esta já está, consegui reduzir mais de uma hora do meu tempo do ano passado e acabei sabendo que estava lesionado e que poderia ter feito melhor. Agradeço a minha família do Desnivel Positivo, pois conseguimos a segunda classificação por equipas, os meus parabéns a minha colega de equipa Ester Alves que se classificou em primeiro lugar nas mulheres, ao Paulo pela companheirismo e agradeço a todos aqueles que durante este tempo me tem apoiado, um obrigado a todos.
Louvo a excelente organização dos amigos da Montanha, não faltou nada, os abastecimentos muito bem organizados e fartos, a sinalização simples e eficaz, aos voluntários, aos bombeiros e um abraço especial ao Carlos Peixoto por tudo que tem feito por esta prova. Até para o próximo ano.
Artur Costa - Desnivel Positivo;
Dorsal: 200;
Tempo: 06:56:54,
Classificação Geral: 18º;
Classificação Escalão: 12º.