Não desistas

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domingo, 15 de maio de 2016

Salomon Ultra-Trail Hungary 115K




Não sei como escrever o que se passou, mas tenciono pelo menos dar o lado positivo da experiência, pois ir a Hungria correr, não é todos os dias que se consegue. Antes de mais, tenho que agradecer ao Pessoal da Horizontes, por se associarem a este tipo de intercâmbios, possibilitando assim atletas viverem novas experiências no mundo do trail. Depois tenho pessoas fantásticas que me tem ajudado imenso, vou mencionar sem ordem de importância, pois todas estas pessoas foram muito importantes para esta viagem. Agradeço ao Jorge Esteves, da Loja Trail Rrun, por todo o apoio que me tem dado, apostando em atletas de pelotão e amadores, o teu incentivo tem sido fulcral. Agradeço a Natacha e ao Roberto, da Hands On, por me apoiarem a nível da fisioterapia/osteopatia, sem este apoio estava todo desarticulado. Tenho que agradecer ao Frederico Esteves, amigo e Presidente da minha equipa, Desnível Positivo, sem o seu apoio, toda esta expedição estaria comprometida, o meu muito obrigado. Agradeço a todos que tem dado palavras de apoio nos mais diversos meios, mas destaco o Carlos Miguel Miranda, que no momento que tinha decidido desistir na prova, falei com ele ao telefone e me disse as palavras certas que me fizeram continuar. Agradeço o apoio da minha Mãe, da minha Mulher e do meu Filho, pois pensar nele, foi o incentivo que me conduziu até a meta.


Chegados a Budapeste, tinha a Katie, a nossa espera com uma folha A4 com o meu nome e o logo da prova. De imediato nos juntamos ao meu camarada Grego, Spyros Papas, foto da praxe e fora do aeroporto iniciamos o contacto com a Hungria. Durante o percurso tivemos a possibilidade de ter uma mini visita aos locais mais populares, sem dúvida uma cidade a visitar com mais tempo. Como ainda tínhamos cerca de 40 minutos de viagem até Sezentendre, não foi possível dispensar mais tempo.



Szentendre



De manhã decidimos explorar a cidade, muito conhecida pelos seus museus e feiras temáticas. Para que saibam Szentendre, significa Santo André, um local pequeno, que ao fim de uma hora, foi o suficiente para conhecer os cantos à casa.
Fomos ao centro da corrida levantar o dorsal, entregar o saco com a muda de roupa e ficar conhecer mais provas que se organizam neste lado da Europa. A prova tinha início às 00 horas pelo que o resto do dia foi para descansar.

Fotos do fim de semana aqui.


A prova

De um modo geral a organização conseguiu fazer jus ao seu nome, já que Salomon tem um peso enorme para qualquer evento. Estes dias tinham sido de chuva, pelo que segundo quem conhece a prova é os locais, iríamos ter um terreno muito pesado, cheio de lama e verifiquei isso ao longo de quase 100 km.
O ritmo começou bem elevado e cedo estava num grupo da frente que não teria mais que 12 atletas, decidi não arriscar mais e fiquei a acompanhar um grupo de 6 atletas. Infelizmente, de noite, ao acompanhar o grupo que vá na nossa frent,e desligamos os sensores e vamos a seguir os outros, o custo disso foi termos saído do trilho, felizmente ando sempre com o track no relógio e consegui encontrar novamente o rumo certo, mas perdi imenso tempo e fiz quase 10 km para isso.



Depois fui a trás de recuperar o prejuízo, elevando ritmos, criando picos e numa ultra não devemos fazer isso, muito pelo contrário, devemos ser constantes. Aos poucos lá recuperei o lugar, mas o dano tinha sido causado, quando cheguei ao primeiro abastecimento com uma refeição quente, sopa de tomate com massas, comi, mas quando comecei a correr tive que vomitar tudo. Desde este momento o meu organismo deixou de ingerir sólidos, passei a vomitar mais vezes, não sabia ao que fazer, passei a consumir mais líquidos, mas o meu intestino também começou a lançar alertas, tive "várias paragens estratégicas", tentei não pensar mais no assunto e gerir...gerir o mau estar e as dores, faltava chegar ainda a uma prova dentro da ultra, Suunto Sprint Run.
Esta prova teria como prémio um relógio Suunto Ambit 3, o percurso seriam 2,5 km com 550 D+...para quem lê  estes números, pensa logo que é fácil, mas enganam-se, com cerca de 55 km nas pernas, dar o máximo neste sprint, mesmo sabendo que outros atletas são mais fortes que tu, é obra.
Quando passei o control check, estava todo arrebentado, mas tinha mais 60 km para correr, agora tinha que recuperar, não seria fácil, mas o dia já tinha aparecido, a paisagem era magnifica, apesar da lama não nos abandonar, as dores nos joelhos eram insuportáveis, não conseguia comer nada, limitava-me a beber.



Ao km 80 a cabeça mandava parar, olhei para o gráfico, faltavam 35 km tinha duas subidas e duas descidas brutais, a cabeça continuava a falhar, decidi pegar no telemóvel, nem olhei liguei para última chamada que me tinha tentado telefonar. Era o Peregrino, o meu amigo Carlos Miranda, apesar das palavras de enorme incentivo, confessei -lhe que não ia continuar, mas este fez me pensar no meu filho e em tudo que passei para estar na Hungria e lá consegui dar a volta a mente e continuei. Entrei no abastecimento, estava lá a Katie, perguntou como estava, expliquei que estava mal e que iria tentar chegar ao outro abastecimento, seria agora a estratégia, sobreviver de abastecimento em abastecimento. Aqui consegui comer uma sopa de legumes, mal vi que o corpo reagiu bem comi mais duas, tentei ingeri mais sólidos a ver como iria reagir e segui estrada fora.

Mas estava condenado, o ritmo era bastante baixo, as dores imensas, continuava a ter problemas intestinais, mas estava decido ir até ao fim, tinha imenso tempo, nem que fosse necessário ira andar. As subidas e as partes rolantes, eram feitas a trote, as descidas eram a passo...muita gente passava por mim, não foi fácil gerir mentalmente estar a ser sempre ultrapassado por outros atletas, mas o facto de os km estarem a passar e o fim estar perto, era o que me mantinha ali a dar luta.
Cheguei ao último abastecimento, faltavam 10 km sempre a rolar, eu estava um caco, cheirava mal, não canse guia comer nada, descansei um pouco no abastecimento e arranquei. Neste ponto conseguia correr 500 mt e andava 200 mt, não dava para mais...continuava a ser passado por muitos, alguns da minha prova, mas a maior parte da prova do Trail... não estava a ser nada fácil, mas como estava a superar todo este mau estar e me mantive até ao fim, mais um pouco e tudo acaba.
Entrei na cidade, as pessoas aplaudiam, a meta...finalmente! Fui duro, muito duro, mas eu terminei!