Não desistas

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domingo, 28 de abril de 2013

A minha primeira prova de 100k

A minha primeira abordagem aos 100 km, foi muito nas calmas, acho que com o passar do tempo e com a aquisição de alguma experiência, deixamos de nos intimidar pelos km e pelo desnível, inclusivamente, o Diogo Almeida dias antes me perguntou se estaria a passar algo comigo, pois achou que eu estava calmo demais. Lista feita, comecei cedo a preparar o material, não fosse faltar algo.. siga direcção a Póvoa local de encontro com o Mauro e o Nuno, passando depois pelo Porto para se juntar a nós o Isaac e o Pedro. No carro o ambiente estava espectacular, só com o passar do tempo é que fui informado que o Pedro tinha sido o primeiro classificado da mesma prova no ano anterior. Maravilha!!! Comecei com as minhas perguntas para saber como seria a prova e o Pedro deu conselhos muito úteis.
A 30 km da Covilhã de repente o calor abafado que se sentia, tipo tempo de trovoada, deu lugar a um dilúvio, não se via nada e pensei, pronto mais uma prova debaixo de chuva... mas, chegados a Covilhã o tempo estava excelente, muito calor e pouco vento.
O pessoal dos 160 k já estavam nos últimos preparativos e lá avistei o Márcio Villar, fui falar com ele, pensei, fogo este gajo tem mesmo ar de índio...mas perguntei: " Preparado?" e ele " Xiii minino, isto é muito duro cara, tenho os dedos dos pés em sangui (estou a tentar a pronuncia brasileira), mas vou até ao fim, cara." Mais duas de treta e uma foto para mais tarde recordar. Poucos minutos depois, lá vinha o Rui Seixo, mais duas de treta e um aperto de mão, depois lá vinha o Luís Mota, mais um aperto de mão e a grande Analice deixou a sua mensagem para estes bravos Heróis que iriam partir para um mega empeno.


Bem, mais vale avançar um pouco no tempo senão não vou sair daqui.



Dia D, o vento estava muito forte, fui lá fora ver e oh meu deus, que frio... pois estou na Covilhã... lá nos colocamos na partida e tal como os camaradas dos 160 k, não conseguimos ouvir a partida, mas depois lá veio alguém e disse sigaaaaa!!!!! fomos escoltados por cerca de 2 km pelo carro patrulha sempre pelo centro da Covilhã, até entrarmos na serra e aí um trilho porreiro até ao Pc1 em Cortes do meio, com subidas acentuadas e descidas algo técnicas, mas com uma paisagem maravilhosa. Chegados a aldeia cortes do meio, começou o pesadelo, 3 km num trilho super fechado, ao que eles chamam técnico, onde comecei logo a dar cabo da pintura da máquina, mas logo começamos a subir num trilho fantástico em direcção as Penhas da Saúde.
Quando comecei a descer, já avistava a aldeia, mas a organização mais uma vez, apresentou um trilho técnico que consistia em arvoredo com um metro e meio de altura, onde não se conseguia progredir e mal se viam as fitas sinalizadoras, mas logo deixamos este trilho para trás onde entramos na estrada nas Penhas e chegados ao PC2 e o frio já se fazia sentir.



Em Direccção a Torre e ao PC3
 Esta parte do percurso, para mim, foi uma das preferidas. estava bastante frio,mas os trilhos e o Sol, faziam mesmo ter vontade de desfrutar aqueles momentos, apesar de ter existido mais um"trilho técnico" com muito arvoredo e uma vedação de arame farpado, que tínhamos que ter muito cuidado, pois o mínimo descuido e o casaco rasgava...
Entramos no trilho do Major, trilho espectacular, protegido do vento e com uma vista maravilhosa sobre o vale de Unhais da Serra e sobre a Albufeira da Barragem do Covão de Ferro, a este trilho já o chamo técnico, pois é sobre um precipício e com muita pedra,  mas sem arvoredos para estragar a pintura.

Como podem verificar, em cima, simplesmente belo e lá ao fundo Unhais da Serra. Em baixo, em pleno trilho do Major com as Torres ao fundo.





















Chegados a Torre, uma ambiente fantástico, uma sopa espectacular e uma café com vodka que serviu para as próximas horas, mas a descida da torre foi toda por estrada de alcatrão e fez mossa nas pernas, acho que foi o momento em que mais senti um certo mal estar.





Depois de acabar o alcatrão, entramos na Nave de Santo Antão, percorrendo o trilho do Vale glaciar em direcção a Manteigas, onde este percurso deu para rolar muito bem, com a excepção de um pequeno percurso com muito arvoredo alto com muitas árvores caídas, onde facilmente poderíamos ter um descuido e ficar aleijados seriamente, pois por vezes depois do arvoredo alto, existia um precipício.
Mas, a meio do trajecto, acho que o café com vodka, limpou-me o organismo, onde vi que não ia chegar a Manteigas sem realizar uma paragem estratégica, só que desta vez estava preparado... ehehehehehehe!!!!
Mais uma subida, ufa já estava farto de rolar, parecia que nunca mais acabava....
Quando cheguei a Manteigas, tive direito a ser recebido pela banda lá do sítio, mas por mera coincidência.

Manteigas, PC 5, onde teria o meu saco para realizar a troca de roupa e afins. 
O calor era tal, que pensei, não necessitava de tanto peso na mochila, nem necessitava de vestir as calças térmicas... erro que mais a frente ia colocar a minha prestação na prova em causa.
Mais uma sopa e algo que notei, de abastecimento para abastecimento, a qualidade da sopa piorava significativamente.
No briefing fomos avisados que depois de Manteigas teríamos uma subida bastante longa até Sameiro, local do próximo abastecimento.

PC 10 - Sameiro

Realmente, subimos e subimos e subimos....por uma estrada, onde por vezes traçaram o percurso a cortar a estrada para tentar dificultar as coisas....Marcações sem sentido do tipo, estou numa curva, vejo em baixo o local onde vou ter que seguir, posso cortar caminho, pois tem trilho, mas para fazer km, tenho que seguir a estrada por mais 200 mts... enfim...
Chegado a Sameiro, o pessoal dos 160k, estavam todos a descansar e a tratar das mazelas. Um espanhol pergunta se tenho Gps, para saber quantos km marca e eu respondo,  marca 66 km, o gajo diz-me que temos cerca de mais 6 km do que realmente deveria ser. Saquei o gráfico que tinha na mochila, pois existe sempre alguém que se lembra de imprimir uns quantos para distribuir ao pessoal, mas não da organização, verifiquei que o gajo tinha razão.
Mais uma sopa de qualidade duvidosa, uns salgados, um copo de cola, pois o café com vodka ainda não tinha saído do meu sistema e siga a marinha porque quero aproveitar o Sol, para fazer o trilho do Poço do Inferno.

PC 13 - SkyParque

Não entendi, deveria ser aqui a muda de roupa, mas fomos avisados que seria em Manteigas, mas deveria existir aqui um abastecimento líquido mas estava tudo abandonado... mais um "trilho técnico" sempre a subir, daqueles de riscar mesmo a pintura, estes cortavam literalmente as pernas ... E depois um estradão, com umas subidas e descidas a maneira e sempre a rolar, aqui a noite já nos estava a visitar e eu a pensar que já tinha neste momento passado o Poço do Inferno. Estava enganado, neste momento deveríamos andar a uma altitude de cerca 1500 mt, o vento era extremamente forte e a temperatura era mesmo muito baixa, aqui senti o erro em não ter vestido as calças térmicas.
Farto de andar no estradão, sem saber se o gps marcava ou não a distância correcta, tendo falhado um abastecimento, começo a ficar apreensivo... de notar que todas as marcações que tinha passado, não tinham banda reflectora, pensei " o que será do pessoal que vem depois de mim?" Tão fod... eh!, lixados...

PC 14 - Poço do Inferno

Estradão, vento, frio; estradão, vento, frio e de repente umas luzes ao fundo... pensei são os extraterrestres que me vieram buscar... nada disso, um abastecimento...Nada de sólidos, só líquidos, questiono para que lado ficava Covilhã, fUi esclarecido... ainda faltava muito, mas achei que estavam a mangar comigo, olhei para o relógio marcava 80 km, perguntei se seria o abastecimento dos Pois Brancos, não! Ainda estava no abastecimento do Poço do Inferno. OH MEU DEUS!!!! AINDA??????? DASSSEEEE!!!! Mãeeeeeehhhhhheeeeeeee! Tira-me deste filme!!!!

PC 15 - Poios Brancos

A caminho do próximo abastecimento, pois a teoria seria sempre sobreviver de abastecimento em abastecimento e não na distância que faltaria percorrer ou a totalidade do percurso, esse foi o meu pequeno truque.
Estradão, frio, vento, estradão, vento, frio e de repente umas luzas lá no cimo... finalmente os extraterrestres... nada disso, o abastecimento dos Poios Brancos e era o pessoal do abastecimento das Torres, pessoal 5 estrelas. Pergunto afinal a que km é este abastecimento? Basicamente ao km 82,5, olho para o gps, marca 89 km. Calma!!!! lembro-me das palavras do Pedro Igor, sobre o facto de me ter esquecido dos calções em casa: "Não faças disso um problema..." (Palavras santas, caramba...).
Mas achei que deveria ter uma noção do que se avizinha, pergunto se seria sempre a descer, não seria, teria que subir mais um pouco e qual o meu espanto quando o gps marcava 1650 mt de altitude.... AINDA TENHO QUE SUBIR MAIS???? Como sendo o pessoal do Abastecimento da torre, perguntei logo, " E café com vodka, já não há? Tou gelado caramba", não havia, só cola, água ou joy... sim joy para estes gajos deve ser o isotónico...
Dizem: "Tenha calma, que no próximo abastecimento, vai ser servida uma sopa quentinha, que vai ficar como novo e tem sorte não estar muito vento". Quero salientar, que depois deste abastecimento, onde realizamos a tal subida, estaríamos muito próximo das Penhas da Saúde...

PC 16 - Aldeia do Carvalho

Indo eu indo eu a caminho da sopinha!!!!
Este era o pensamento para estes próximos 10 km, mas o mal é que as fitas sinalizadoras estavam quase todas enroladas e demorei algum tempo a procura sempre da seguinte, mas sempre que passava por uma fita, colocava para os que vinham depois de mim.
De repente ouço algo a chamar por mim, pensei que fosse o Nuno que vinha uns metros a trás de mim, verifiquei que não era ele e de repente vejo umas luzes na minha direcção, algo cheio de reflectores e pensei: "agora são os extraterrestres!!!!!".
Nada disso, era um camarada dos 160 k, que pelo desgaste que estaria a sentir, não via as fitas sinalizadoras e eu disse-lhe para nos acompanhar, pois estava comigo estava com Deus!
Esta parte do percurso foi a mais dura de todas, pois já estava cansado, cheio de frio, não sentia as mãos, as pernas muito menos e foi um trilho estupidamente escolhido.
Além de estarmos ainda com muita altitude, de o vento soprar sempre do nosso lado esquerdo e por vezes de frente, o trilho era muito técnico, principalmente quando iniciamos a descida para a aldeia.
O Diogo já me tinha ligado umas vezes, o Pedro estava com uma conversa de uns cavalos, que me iriam fazer qualquer coisa... não entendi.... a minha mulher a perguntar se já tinha acabado, a minha mãe também e eu já me estava a passar, pois sempre que tinha que atender uma chamada tinha que retirar uma luva,baixar o buff que me cobria o rosto e levantar o gorro, onde ficava com mais frio.
De repente, o gajo que nos acompanhava, lança um berro e diz que algo lhe perfurou o pé, parei, apreensivo já a pensar que teria que carregar o gajo, ele retira a sapatilha, não tinha nada... estava a alucinar... siga que eu quero comer a sopa.
Sopa, sopa, sopa quentinha... este era o meu pensamento enquanto descíamos a serra... lá deixamos o trilho e demos com a aldeia e o local do abastecimento.
Servem a sopa, com bastantes rodelas de chouriço de vários tipos, coloco a primeira colher na boca e...... NÃO POSSO CRER, ESTAVA CONGELADA!!!!












Covilhã

Depois deste desgosto, desta promessa eleitoral queria terminar o quanto antes, fomos informados que faltariam cerca de 8 km para chegar ao Jardim do Lago, local da meta.
Siga... um frio do caraças mas já estávamos a 700 mt, mas estava frio e lá fomos a trote... de repente vejo um vulto, parecia o corcunda, aumentei a intensidade do frontal e conforme me aproximei era uma gajo dos 160 k, que já se arrastava, lá lhe dei umas palavras de ânimo e siga...
De repente deixou de haver fitas, tinha feito cerca de 2 km. Fui para a direita, percorri 300 mt e nada de fitas. fui para a direita, percorri cerca de 500 mt e nada de fitas. Voltei para trás, onde tinha a última fita, existia uma talho em frente andei 100 mt, tudo muito escuro, não havia fitas reflectoras, pois o percurso seria por ali, mas isso só soube no dia seguinte.
Vamos sempre pela estrada, andamos, andamos, andamos, já via o centro da Covilhã a uns 3 km do local onde estava, decidi ligar para o número da organização. Atende a brasileira, voz de sono, sim eram 3 da matina,passou a outro colega que me tentou ajudar, mas como só estava ele acordado, mandou seguir a estrada nacional. Lá fomos, nacional, até a a zona das Ubi, depois sempre a descer ao jardim... não queria creditar, olho para o relógio marcava 106 k.
Não havia ninguém para nos receber, o organizador estava na tenda, mas de repente saltou lá de dentro, a brasileira, colocou a medalha, fui reclamar, por ter perdido cerca de hora e meia para fazer 6 km e não haver sinalizações, onde rapidamente me responde, "ainda  a pouco mandei reforçar essa zona, pois outros atletas já se tinham queixado".... daaasseee!!!!!! jura???????
Desculpem o tamanho do texto, mas foi o que consegui. 
Obrigado Diogo Almeida, sabes bem que sem o teu apoio provavelmente não teria realizado uma prova de 100 k este ano. Obrigado amigo e obrigado Desnível Positivo.