Não desistas

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sábado, 7 de junho de 2014

As minhas primeiras 100 Milhas



Tinha traçado desde o ano passado, estrear-me numa prova de 100 milhas, mas infelizmente em dezembro passado ao fazer as contas necessárias para ir a Chamonix participar Ultra Trail do Mont Blanc, logo cedo verifiquei que não seria possível para a minha carteira, então pensei logo em participar no Ehunmilak, mas o calendário não seria o melhor e desisti da ideia em fazer 100 milhas no estrangeiro. Só restava realizar as 100 milhas na Serra da Estrela, 100 % prova Portuguesa, com a organização da Horizontes, onde o ano passado tinha realizado a minha primeira prova de 100 k, podem consultar aqui o meu relato.


Ao consultar o meu calendário, tinha em Abril o Gerês Trail Adventure 107 K, passado 15 dias teria o Ultra Trail de São Mamede 100 K e passadas 3 semanas teria as 100 milhas, tentei pensar tudo como uma grande preparação, os objetivos principais estavam definidos e terminar as 100 milhas, seria o principal. Os meus colegas Vitor Penetra e Rui Maia também iriam participar e foi mais um bom motivo para continuar em frente neste desafio. A viagem foi realizada com o Rui Maia, mas já em viagem recebo uma chamada da minha esposa a informar que me tinha esquecido da mochila com algum material para a prova, hidratação, nutrição e alguns acessórios e tivemos que retornar a Viana, ainda bem que assim foi, senão não poderia participar, por falta de material obrigatório.



Chegados a Seia, tratamos logo de levantar dorsais, decidimos ir logo para o solo duro, que seria nos Bombeiros voluntários de Seia, fiquei surpreendido com as excelentes instalações, pena é ter algumas escadas, isto porque no final da prova, iria ver muita malta em dificuldades para subir e descer escadas, atenção, também me estou a incluir.

Como o início da prova era ás 16 horas e tinhas um briefing para assistir, não dava para perder muito tempo e comecei logo de tratar da mochila e de me equipar e lá seguimos para o local de partida, o tempo estava bom para correr, mas alguma chuva ameaçava para a noite, por isso seria necessário pensar bem no vestuário e na muda de roupa, existia a possibilidade de trocar em 2 locais definidos pela organização e atendendo ao perfil de altimetria, o ponto mais alto seria na Torre e aí sim, faz frio, o restante do percurso, pelo que conheço nesta altura é bem ameno, saliento também para o facto de a organização este ano ter apostado em colocar a prova a passar em mais povoações, tornando tudo mais seguro para o atleta.

Aqui tem uma parte do Road Book com descrição geral do percurso, com a altimetria, notas e acho muito útil para o atleta, sem dúvida uma grande solução. Aproveito e tento descrever aquilo que verifiquei durante a prova:


Inicialmente se começou lentamente, pois são 100 milhas e convém poupar as pernas para o que ai vem. Saídos do centro de Seia começamos logo a subir por um estradão, lentamente deixávamos a cidade para entrar na montanha.

Quando cheguei ao primeiro abastecimento, perguntei por curiosidade a minha posição e foi-me dito que seria o quinto atleta a passar. Quinto? Sei que não eram muitos participante, menos de 50, mas em quinto lugar, não pode! Decidi abrandar, pois o objectivo é terminar as 100 milhas e não ficar em primeiro, confesso que estava um pouco receoso.
Receava que houvesse falhas nas marcações, era a primeira abordagem nesta distância e receava que devido ao desgaste acumulado, que cedo o meu corpo cedesse e colocasse em causa o terminar a prova.
Mal chegou a noite, estávamos a percorrer umas levadas de água, já tinha começado a chover passado poucos minutos do início da prova, confesso que as levadas serviram para abrandar, mas acho que foi para perder algumas horas no total.
Algumas zonas muito perigosas, a organização frisou mais que uma, vez para que nesta parte do percurso, teria que ser feito a andar e não a correr, realmente duvido que alguém tenha passado a correr, só mesmo se tivessem bebido Red Bull.

Foi de louvar a ideia de colocar os abastecimentos nas povoações, não só para o atleta, mas também para a própria povoação. De salientar o grupo de cantares, Balancé da Cabeça, que cantavam a bom som, "A culpa é do vinho", sem dúvida reconfortante, podem ver aqui os vídeos.
Neste momento teríamos a primeira muda de roupa e a famosa subida da garganta de Loriga, aqui sabia que necessitava de trocar meias, sapatilhas, abastecer de mais umas barras e roupa quente, pois a subida vai quase até aos 2000 mt. Apesar a maior parte da subida estarmos do vento, já se sentia uma descida da temperatura.
Foi mágica esta subida, ao Vale Glaciar de Loriga, o céu ficou estrelado, não se sentia vento e a calma da serra deu para desfrutar bem o trilho. Já quase a chegar ao topo, o Sol começou a espreitar e rapidamente, já não havia necessidade de usar o frontal, depois de subir a Nave Mestra, existia uma

tenda com voluntários a dar apoio aos atletas, mas 

com o frio que se sentia, não consegui parar muito tempo, aliás mal saímos da protecção do vale, o vento soprava forte, a temperatura baixou muito, tive que parar e colocar as luvas, pois já não aguentava, foi pena nesta parte estar imenso nevoeiro e não se conseguir contemplar as paisagens. 

Chegados ao abastecimento na Torre, o apoio da Cruz Vermelha, foi espetacular, havia pessoal cheios de mantas e panos quentes para se aquecerem e havia alguns casos de hipotermia, já deviam prever que na alta montanha, não somos nós que ditamos as regras e temos que ser nós a ajustar a ela.
Agora viria a parte mais difícil, sair da Torre, enfrentar o choque térmico...foi brutal, mas rapidamente começamos a perder altitude e aos poucos a a temperatura subiu. A descer sempre até ao Vale do Rossim, as primeiras dores no joelho tinham aparecido, tudo fruto de 4 meses de muita carga e muitas provas, mas não podia comprometer

a minha participação na prova. A muito custo, alternando com andar e correr moderadamente, lá me consegui deslocar, quando parei para avaliar o meu joelho, fiquei assustado, este tinha inflamado, parecia que tinha uma bola dentro do joelho, tinha o dobro do tamanho. Grande apoio do meu colega Rui Maia, que também se estava a sentir com algumas dificuldades, mas com o espírito de entre ajuda, fomos superando as adversidades, apesar de ter sido frustrante querer correr, nas partes planas e que durante bastantes quilômetros podia, mas por dor no joelho não conseguia.

Os Km's iam diminuindo, a vontade de correr aumentou, a superação a dor era enorme e a vontade de terminar também. Os voluntários e as pessoas iam dando o seu apoio, gritavam palavras de incentivo, tudo que naquele momento estava a faltar, pouco a pouco entramos em Seia, estava feito, terminei um prova de 100 milhas e consegui 4 pontos para o oUTMB.
Obrigado Desnivel Positivo, Ester Alves, Diogo Almeida, Rui Maia, Vitor Penetra, a minha esposa e ao meu filho. Parabéns a toda a organização que este ano pensaram mais no atleta e tiveram muito bem em todos os aspectos, agora quem sabe, pode ser que em 2015, esteja outra vez a realizar as 100 milhas.

Artur Costa
Desnivel Positivo
11º Geral - 29 horas, 30 minutos.




A chegada a meta.