Não desistas

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sábado, 1 de fevereiro de 2014

IV Ultra Trilho Dos Abutres


Mais uma edição desta mítica prova, que pela segunda vez consecutiva, iria participar, mesmo sabendo que estou abaixo da minha forma física, não podia deixar de ir, pois toda a família do trail, nesta altura do ano, ruma a nossa querida serra da Lousã. Alías, esta seria uma prenda de aniversário e que rica prenda que fui arranjar.
As inscrições mal se encontraram abertas, esgotaram em apenas alguns dias, tal é a procura para uma das provas mais técnicas do trail nacional, sendo atribuído o grau de muito difícil, segundo a ATRP, pois além do mais, conta para a classificação do Circuito Nacional de Ultra Trail.

Tal como previa, a viagem já arrancou tarde, mas a boa disposição reinava na carrinha, esta cedida pelo Município de Caminha e rumo a Miranda do Corvo antes que o secretariado encerrasse.
Conseguimos, lá chegamos, a são e salvo, este ano a t-shirt técnica, foi substituída por uma de cor amarelo super florescente, preferia o branco como a do ano passado, uma garrafa de “Vinho de Lamas”, um doce típico da região o “Mirandense”, dorsal, chip e senha do almoço. Aos poucos ainda fomos saudando outros atletas, colegas ou até familiares, pois no trail, com o passar do tempo, já nos consideramos como uma família, ainda tivemos oportunidade para visitar a Feira Abútrica e dar uma vista de olhos ás oportunidades e ás novidades. Mas, a minha preocupação seria o solo duro....


O solo duro seria nos Bombeiros Voluntários de Miranda Do Corvo, mal lá chegamos já algo se previa, o pavilhão estava super lotado e foi-nos dito que tinham aberto outro espaço para este efeito. Mal nos abriram as portas, não pude crer, estávamos na cave, era óleo dos carros espalhado no chão e um frio de rachar, nem sabia onde iria tentar abrir o saco cama... Mas, a certa altura recebo uma chamada do nosso colega Vitor Penetra, a perguntar onde estava, pois ele tinha se "apoderado" de uma sala do médico nos bombeiros e que tinha espaço para nós... não pude crer.
Lá subimos ao primeiro andar, a sala tinha espaço suficiente para todos e ainda por cima tinha imensas mantas que deu para improvisar uma cama espetacular, pois o descanso nesta noite era muito importante.

A certa hora, comecei a ouvir uns sons agitados, era o Diogo Almeida, já todo equipado, quando lhe perguntei que horas eram, já estava atrasado, a cama estava tão confortável que ia adormecer, mas saltei logo dali para fora e siga que a serra da Lousã nos aguarda, este será o primeiro empeno do ano.

O controlo zero foi mais rápido que no ano passado, neste aspecto conseguiram melhor bastante, pois o ano passado fui o penúltimo atleta a passar no posto zero, desta vez não iria permitir isso, havia mais atletas que no ano passado e por isso quanto mais perto conseguisse estar da partida melhor. Ainda se foi saudando mais elementos desta vasta família, desejando boa prova e aproveitando para tirar algumas fotos em grupo ainda todos limpos.

Partida!
Passavam cerca de cinco minutos das oito da matina, o público tinha se concentrado na saída do pavilhão, é muito compensador quando temos público a aplaudir, diria que, é um momento encorajador e de respeitar aqueles que trocam o conforto do lar, para aplaudir os ultras.

O andamento nesta parte do percurso é realizado a um bom ritmo, ou dentro daquele ritmo que nos sentimos melhor, eu tentei andar bem, para tentar passar o maior número de atletas antes da primeira parte mais técnica, com single tracks, pois aí é muito difícil passar alguém. Adorei quando passamos em pleno Parque Biológico da Serra da Lousã, onde podemos ver os mais vários animais que ali se encontram, mas especialmente para mim, quando passamos ao lado dos lobos, adorei! Tem aqui o link da Quinta e aqui um vídeo, podem encontrar um museu, um centro hípico e muito mais. É um excelente local para passar uma manhã em família!











Parquebiologico.serralousa/photos


Abastecimento 1 

Neste ponto estávamos em Vila Nova, com cerca de 10 km, como ainda estava com tudo atestado decidi não parar e seguir em frente, pois passados alguns km teríamos outro abastecimento e mesmo sabendo que se iria começar a subir, com um terreno muito pesado, eu estava preparado para isso.
Tinha delineado, que a partir deste ponto seria a melhor altura para retirar os bastões, pois segundo o perfil, a prova começa a ter maior desnível aqui, mas o trilho passa a ser muito mais técnico, mas mesmo assim, fazia parte do meu objetivo o uso de bastões em prova.
Por acaso desta vez segui bem o meu plano, mesmo a nível nutricional e não senti mazelas, hidratar bem, ingerir gel antes das subidas e barras energéticas e proteicas.




Abastecimento 2

Em Mestrinhas, com cerca de 17 km, teríamos o segundo abastecimento, subimos sempre e descemos também, muita lama e muita pedra molhada, desde o abastecimento 1 até ao abastecimento 2, existem partes bastante técnicas, foi aqui que me arrependi optado pelas sapatilhas Gobionic Trail e pelo bastões, pois tudo ajudou a cair. Nesta lama, só mesmo sapatilhas com tacos bem salientes, existem alguns modelos no mercado, mas eu como não posso ter um par de sapatilhas para cada ocasião, tive que aguentar as quedas, onde uma cheguei a deslizar cerca de 3 metros sobre uma pedra.

Aqui encontro o gajo mais bonito do facebook, segundo ele, o meu camarada de armas Vitor Penetra, realmente confesso Vitor, fiquei admirado estares já neste posto de abastecimento e por outro lado muito contente por te ter ao meu lado correr. Aqui partimos um grupo grande e de vários elementos da Desnível, eu, o Luís Alves, Pedro Conde, o Vitor Penetra e o seu colega que não me recordo do nome. Mas não se julgue que a prova se tornaria mais fácil, aqui subimos até ao primeiro ponto mais alto e começaríamos a descer por trilhos, com muitas raízes, algumas pedras escondidas e começaríamos a descer até ao rio. Aqui no rio é que tudo complica, mais quedas, nem as cordas ajudavam os atletas, ao mínimo deslize e lá íamos nós, mas finalmente avisto as escadas para a Sra. da Piedade, o terceiro abastecimento.





Abastecimento 3


Sra. Da piedade, 25 km, aqui tinha mesmo que realizar uma paragem longa, mas não pensem que seria para comer ou beber. Tinha as sapatilhas rasgadas em ambos os pés, lama e pedras já me estavam a incomodar a muitos km. Além de ter que fazer isso, decidi testar um produto isotónico, mas a sua preparação demorou mais 2 ou 3 minutos, tive tempo apenas para comer um sopa e um pouco de laranja, pois o resto do grupo já estavam a minha espera, esta paragem fez com que um outro grupo enorme de atletas seguisse na minha frente e só no final da prova é que tive a real noção do tempo que perdi neste abastecimento.

Temos que chegar a Gondramaz, aqui entramos novamente num percurso todo ele técnico, mais pedra, lama e subidas longas até ás eólicas. Chegado ao topo estava muito nevoeiro, não se viam as eolicas, vento e uma chuva daquelas que parecem agulhas a penetrar na pele. Para aliviar, começamos a descer um pouco, mas aqui ainda existiam muitas raízes e todo o cuidado era pouco.

Abastecimento 4

Centro de BTT, abastecimento rápido, pois perdi imenso tempo, os últimos km deram para aliviar as pernas e ajudaram a pensar no resto da prova....já faltou mais.

A 5 km de Gondramaz, o pensamento é positivo, mas estes cerca de 5 km, são uma maldição pois entramos novamente no rio, muita lama, pedra, troncos, pontes de troncos de madeira, cordas para ultrapassar obstáculos mais difíceis e os bastões a darem cabo da progressão. Conselho, se não forem muito experientes em no uso de bastões em trilhos técnicos, não vale a pena usarem. Eu nestas partes ou passava ao companheiro que vinha atrás de mim e depois ajudava-o a subir, ou então atirava os bastões para o ponto que pretendia subir e usava o que esteva em meu redor para subir.
Agora uma última subida, muito técnica, a subida ao Penedo Dos Corvos. Só o tipo de terreno que é impõe mesmo respeito, mais as correntes colocadas para ajudar a progressão e a presença do Bombeiros, faz com que um gajo se tenha que concentrar ao máximo para não haver nenhum deslize. Passado este pesadelo, entramos num trilho pouco técnico mas sempre a subir até ao próximo abastecimento, já conhecia do ano passado e pensei, já estamos aqui???? Maravilha!


Abastecimento 5

Mal vejo a aldeia, sinto um certo alívio pois sei que aqui tenho cerca de 35 km, mais km menos km, mal passo o Beco do Tintol, sinto a energia a voltar ao de cima, vamos lá abastecer, perder um pouco de tempo a hidratar e seguir em frente.
Daqui seria a descer, mas cedo entramos novamente no mesmo tipo de terreno, single tracks junto ao rio, lama, troncos, pontes de impor imenso respeito, pedra molhada e muitos tombos pelo caminho. Já quase mesmo no fim de sair deste terreno, ao deixar passar um atleta por mim, aconteceu o pior, ao passa por baixo de um tronco de uma árvore embati com a cabeça.
TUMM! Foi este o som, pensei logo, pronto, nunca abri a cabeça vai ser hoje. Passei a mão na cabeça e sangue, pronto a prova vai acabar a dez km da meta e mesmo na saída do trilho técnico. A conduta desportiva não se verificou nos 3 atletas que passaram por mim, nenhum perguntou se estava bem ou se precisava alguma coisa. Lamento imenso esta atitude, pois quer nesta prova, quer noutra qualquer, sempre que passo por alguém, pergunto logo se está bem e se precisa de algo. Não consigo compreender como existem atletas que passam, por outro, amarrado a cabeça, a sangrar e em cócoras e ignoram. O que me valeu foi o Pedro Conde e o Luís Alves, que pararam e verificaram que apesar do sangue, seria um ferimento superficial.

Fiquei revoltado, nunca vi nada semelhante, acima de todo a entre ajuda e o espírito de companheirismo, são a base do trail, cada vez mais, existem pessoas que estão a destruir estes valores. Nesta fase, já dava para rolar a ritmo mais alto, mesmo na zona da levada que apesar da lama, como ainda era dia, dava para progredir muito bem, comecei a passar vários atletas, mas ainda sentia a vibração do impacto na cabeça de cada passada que dava, mas um ultra supera isto, eu sou ultra e vou seguir. Este era o meu pensamento!

Abastecimento 6

Em Espinho, nem parei, agradeci os aplausos, já se começa a ver novamente o público a apoiar, tínhamos sensivelmente cerca de 40 km, só faltam 8 km para terminar, mas são longos, muito longos. Tentei manter um ritmo controlado, de forma a que não tivesse uma quebra, pois sabia que no fim teria uma última subida antes de chegar ao pavilhão.
Antes 540 metros desta subia, o atleta que vinha mesmo ba minha frente, quando a viu, disse que isto não se fazia a ninguém, só lhe disse, vamos embora que é num instante que fazemos isto. Conforme subo, começo a ouvir o meu nome, são colegas, caras conhecidas, a dar um último apoio e foi num instante que se fez esta rampa.

Meta


Entro no pavilhão corto a meta, a confusão era tal que o staff nem repara que ainda estão a chegar atletas, havia pessoal a retirar os chips, os fotógrafos estavam a verificar as fotos tiradas e ninguém anuncia a minha chegada, mesmo assim faço a festa, para mim mais uma prova superada, mesmo com a cabeça e as sapatilhas abertas também. Foi a primeira ultra deste ano, após uma paragem de quase dois meses e é sempre bom correr por trilhos junto desta família.






Os meus parabéns a todos os atletas da Desnível Positivo, estiveram todos em grande e um em especial ao Mota que foi batizado no trail nesta prova.






ARTUR COSTA (POR) (143) 119º Lugar - 07:14:17

Data de Nascimento
1977
Clube
Desnível Positivo
Sexo
M
Tempo Chip
07:13:54
Escalão
Senior M.

PassagemTempo
PARTIDA00:00:23
Sra da Piedade03:31:07
Gondramaz06:01:24
Espinho06:47:19
META07:14:17









Podem consultar os resultados do trail e da ultra aqui!



2 comentários:

joaquim adelino disse...

Parabéns amigo, espero que estejas melhor da cabeça. Toda a gente lá caiu e todos tivemos muita sorte, mesmo aqueles que ficaram com mazelas não desanimaram e por certo a vontade de voltar já estará traçada. Estou de acordo quando dizes que quem não está habituado a usar os bastões é melhor nem se lembrar deles para provas deste género, eu fiz a prova e os bastões são a minha companhia inseparável, embora desta vez prescindisse deles os primeiros 5 kms. Parabéns por isso pela prova e também pela bonita história aqui contada que traduz exatamente os diversos pontos percorridos. Até S.Mamede? abraço

Unknown disse...

Obrigado camarada Joaquim Adelino. O ferimento sarou bem e a recuperação foi rápida. Agradeço as palavras. Abraço e até S.Mamede.